O VENDEDOR DE TOMATES E O VENDEDOR DE NAVIOS.
DUAS VIDAS, DUAS REALIDADES.
Amanhece o dia, o vendedor de tomates, num gesto carinhoso, abraça a esposa, beija as crianças e diz: filhos, papai vai trabalhar! Ele pega o seu carrinho de mão, enche-o de tomates, e na esperança de trazer o sustento de cada dia, sai pelas ruas esburacadas da comunidade, vendendo tomates:
– Olha aí o tomate! Olha aí o tomate! Enfrenta chuva, sol, poeira, bichos; suporta pessoas que apertam os tomates e não compram; além de sobreviver à sede, fome, necessidades fisiológicas e balas perdidas; sempre Com um sorriso no rosto, mesmo quando o coração está dilacerado.
Os primeiros tomates, pela manhã, ainda estão consistentes, mas ao cair da tarde, depois de tantas sacudidas do carrinho, nas ruas esburacadas, resta apenas uma maçaroca de tomates no fundo do carrinho; um caldo vermelho misturado com terra; então ele, com os poucos trocados que granjeou, separa uma parte para comprar novos tomates e com a outra, passa na birosca do conterrâneo, compra um quilo de fubá e alguns temperos, baratos, para que com aquele mingau de tomates que sobrou no fundo do carrinho, cheio de coliformes fecais, possa fazer uma deliciosa sopa e alimentar sua família; e no dia seguinte, semanas após semanas, meses e anos após anos, está ele em sua rotina, gritando: olha aê o tomate, olha aí o tomate!
Enquanto isso o vendedor de navios levanta-se de sua king size, feita pelo wagnon (é claro! Rsrsrs) lençóis macios, travesseiros pena de ganso, toma o seu breakfast, beija sua linda e jovem esposa e diz: filhos, papai vai trabalhar! Chama seu motorista, que o leva até ao aeroporto, de onde viaja ao encontro de seus clientes, na certeza de fechar mais um negócio milionário. Suas reuniões são feitas em suítes presidenciais dos melhores hotéis do mundo ou à bordo de seu jatinho particular, a 11.000 metros de altura; regado aos melhores vinhos; testados pelo seu master sommelier; com o cardápio preparado pelo seu chefe de cozinha, de nível internacional. Cada frota que ele vende, dobra seu patrimônio, ainda assim, este segue também sua rotina.
Tanto o vendedor de tomates, como o vendedor de navios, são pessoas honestas e trabalhadoras; a diferença é que um escolheu vender tomates e o outro escolheu vender navios; polêmicas à parte, quando se escolhe a profissão, escolhe-se também, o padrão de vida. Embora todas as profissões, percebemos a representação destas duas figuras. A pergunta que não quer calar é a seguinte: a final de contas, quem é você, um vendedor de tomates ou um vendedor de navios?
Wagnon Soresine.